"Não sou pessoa para fazer piadas fáceis com o que os outros ganham e menos ainda com as convicções religiosas de cada um. Mas um homem, católico ao ponto de ser do Opus Dei, mostrar-se incapaz de abdicar de parte de uma reforma de 167 mil euros quando o banco que fundou está em extremas dificuldades, só pode ter um significado: precisa que rezem por ele.
Esse homem, o Eng.º Jardim Gonçalves, não foi o único (longe disso) causador da atual desgraça do BCP. Mas só pode olhar cada pequeno acionista do banco, olhos nos olhos, sem sentir vergonha, se não tiver vergonha!
Pessoalmente, não sou parte interessada, embora por razões várias
detenha (há muitos anos) 500 euros de ações do banco, que valem agora
cerca de 63 euros. Imagino aqueles que investiram não 500, mas 5000 ou 50 mil, ou mais.
Não falo dos grandes acionistas a quem Jardim Gonçalves poderá ter dado
muito dinheiro a ganhar (e talvez por isso se sinta no direito de
ganhar uma reforma pornográfica); falo dos milhares de pequenos acionistas que perderam o que tinham.
Pode ser que Jardim Gonçalves siga a máxima bíblica
de dar a quem precisa no anonimato ("não saiba a tua mão direita o que
faz a esquerda"). Mas eu não creio. A perceção que dele se vai tendo, à medida que se vai sabendo do processo (ontem o BCP e o seu atual presidente, Nuno Amado, perderam em tribunal a possibilidade de lhe cortar a pensão) é a de um homem arrogante, inflexível e de um auto convencimento incrível. Um daqueles que dificilmente se salva. É bom que rezem por ele."
Artigo de opinião de Henrique Monteiro, publicado no jornal Expresso. Este artigo desrespeita o anterior acordo ortográfico.
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