segunda-feira, 27 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não me lembro em que ano foi - algures entre 1996 e 1998, certamente - nem qual o dia, de qual mês, de qual estação, nem se os solários sombreariam antes ou pós meio-dia. Mas, arrisco que fosse de manhã. Sei que o céu estava limpo e o dia bastante agradável. Talvez fosse já Primavera.

Conforme as datas evidenciam, era eu adolescente, nos meus trilhos da escola secundária e nem sei se houve um qualquer contexto, pegado na conversa corrente, se foi uma mera abordagem repentina, mas lembro-me perfeitamente quem foi e qual a pergunta; "Olha, tu que CD's tens? Sem ser Prodigy, claro. Deles deves ter tudo." "Nenhum." Foi a minha resposta. Aparte uma ou outra das compilações que na altura eram topo na tabela de vendas; Topstar; Dancemania; e por aí fora, e ainda uma qualquer colecção de músicas de filmes, não tinha CD's - estes referidos eram dos meus pais. Tinha dois módulos leitores de CD's, da idade da pedra que já nem liam alguns CD's e uma aparelhagem mais antiga ainda cujo leitor de cassetes começava a dar as últimas.

Não tinha um sistema Hi-Fi, esse só bastante mais tarde e mesmo os primeiros CD's tardaram a ser comprados e tiveram de ser muito bem escolhidos, para que não me arrependesse e chorasse depois o dinheiro. Até o primeiro CD que pedi para me gravarem - na altura não era qualquer um que tinha uma drive gravadora de CD's, aliás, ter tal dispositivo era meio caminho andado para resolver os problemas monetários de qualquer comum adolescente, claro está que se era adolescente e tinha uma drive dessas, não devia ter problemas de dinheiro - pois o primeiro CD gravado, foi ponderado e reponderado, até decidir pagar o valor que me era cobrado. Não durou sequer um ano, até se estragar. Arrependi-me tão penosamente que acho que ainda hoje trago a azia dessa amargura entalada na garganta. Não me lembro quanto paguei, mas foi por volta dos mil escudos, talvez mais. E eu não tinha mesada...

Hoje, qualquer criança com dez anos vai à Internet e saca a música, o álbum, ou o filme que quiser. Digo dez anos, porque há dez anos, sacar uma música de 6mb no tempo que hoje demora a sacar um filme de 600mb era um feito tremendo, possível apenas para as melhores ligações de Internet que eventualmente seriam de linha RDIS - não se perdia o sinal do telefone quando se estava ligado à rede e ao contrário dos 56kbs das ligações "normais" uma ligação RDIS era superior a 70kbs. O DVD era novidade há dez anos, hoje existe o Blu ray... As k7 nem se usam mais, até os auto-rádios são já equipados com leitor de mp3, CD e alguns até lêem pen drives. Quando eu tinha dez anos foram lançadas as primeiras versões do Windows 3.x...

Muita cousa mudou entretanto, para não dizer que tudo tenha mudado. O Pão de açúcar é Pingo Doce e fustiga a paciência à santidade de qualquer pai, com os seus anúncios irritantes e persistentes. A URSS caiu, novos países nasceram aqui e além. Portugal tem uma selecção de futebol que já merece estatuto de vedetismo, apesar de uma federação imensamente amadora. Já ninguém pensa em aparelhagens, basta um computador, certamente portátil, e um conjunto de colunas. O governo fornece os computadores a crianças com menos de dez anos!!! Quinhentos escudos não dão para o café e um maço de tabaco. O escudo já nem existe. Até o amor e a amizade são valores diferentes.

E no entanto, tudo está na mesma, continuamos sem aprender nada. Matando-nos uns aos outros, procurando espezinhar o próximo, enchendo o nosso bolso deixando outros passar fome enquanto nós deitamos o excesso para o lixo por capricho.

Tanta mudança, tanta diferença e tudo o que realmente importa, está igual ou pior. A merda é a mesma, o cheiro é que é diferente...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Outono


































José Malhoa - Outono (1918)




Mais cedo ou mais tarde, quando o leitor ler estas palavras já o Verão deverá ter as bagagens prontas, despedindo-se até ao próximo ano, quando voltará para mais umas merecidas férias e já o Outono terá começado a desemalar a trouxa que trouxe para mais uma apanha da castanha e bom vinho bebido à lareira, saboreando o fruto.

Com o Outono volta também O Pecado que fora de férias aproveitando a oportunidade de férias que lhe trouxera o amigo Verão, assim se afastando, quase que por completo, das lides do mundo em linha. Mas, enfim, eis que se regressa à casa que durante três meses foi ganhando, vazia, pó e teias de aranha, para vermos, em presença, pó e teias de aranha continuar acumulando durante o restante ano.

Deixo-vos com um vídeo-poema do meu conterrâneo, Pedro Moreira, recitando o poema "Homem Só", incluído no livro de poesia "Café Solo" do também ele conterrâneo Miguel Pires Cabral. (Sobrinho de um outro Pires Cabral e claro está primo do filho deste.)






P.S.: Outros poemas do Miguel podem ser lidos e comentados aqui, onde se encontra também uma ligação para adquirir o livro, caso haja interesse.