quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O sermão de Nasrudin

– Ó, fiéis! Vós sabeis sobre o que é que eu vos vou falar? – Não, não sabemos – responderam eles, em coro. – Já que não o sabeis, não poderei dizer-vos nada. Gente ignorante, é isso que todos são.


Mais histórias de Nasrudim aqui.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E falando em sensacional.

As declarações da recandidatura do sor Aníbal foram hilariantes, deu-me principalmente para rir, aquilo sim é comédia a sério, as estações de televisão já aprendiam que o futuro da comédia não está em "retriposições" de Malucos do riso (é preciso de facto ser maluco para alguém rir com aquilo). Mas de entre todas aquelas piadas que foi dizendo, esta foi muito boa: "Em que situação se encontraria o país sem a acção intensa e ponderada, muitas vezes discreta, que desenvolvi? O que teria acontecido sem os alertas e apelos que lancei na devida altura, em os caminhos que apontei, os compromissos que estimulei, a defesa dos interesses nacionais que promovi?"

Em minha opinião, discrição é sem dúvida uma boa descrição da acção do sor Aníbal, só que demasiada sor Aníbal, demasiada.

Parangona no jornal Diário de Aveiro

Mulher assassinada pediu ao marido para pensar no filho

Diz que é este tipo de cousa que faz vender jornais...
O importante não é a notícia em si, é o sensacionalismo em volta dela.



Esta publicação faz parte integrante d'O Pecado.
Pode ser lida e comentada separadamente.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal…

Coluna de Timothy Bancroft-Hinchey, retirada daqui.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, colocaria no Ministério da Agricultura um atrasado mental que declararia, no seu discurso de tomada de posse: “De agricultura, eu não percebo nada”, antes de passar a destruir o sector, entregando a produção à França e recebendo subsídios para não produzir, sem substituir a perda com algo que criasse empregos e desenvolvesse o sector numa base sustentável. O resultado do meu excelente empenho seria visível para quem visitasse a fronteira com a Espanha. De um lado, glória, do outro, miséria.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, deixaria a União Europeia ficar com o sector das pescas e apesar de ter a décima maior Zona Económica Exclusiva no mundo, eu permitiria que barcos espanhóis pescassem nas águas portuguesas, enquanto os meus pescadores ficariam banidos do mar, secando em terra na miséria.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, destruiria o tecido industrial do meu país, fechando a Siderurgia Nacional, teimando em não construir um smelter para metais no Alentejo, apesar de ter as minas de Neves Corvo, maior mina de cobre na Europa, liquidando toda a indústria pesada, substituindo-a com uma ou duas indústrias ligeiras mas não criando as condições para a sua sustentabilidade, de maneira que na primeira onda económica difícil veria os parques industriais vazios.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, deixaria rios, ou melhor, Oceanos de dinheiro correr pelas minhas mãos nos dez anos após a adesão à União Europeia, construindo pontes e auto-estradas para as pessoas fugirem do interior mais depressa, criando engarrafamentos humanos nas cidades costeiras, permitindo que firmas para gerir processos de aplicação de fundos comunitários aparecessem como cogumelos, sem qualquer fiscalização, esgotos nos quais esses fundos cairiam, sem deixar nada que se visse em termos de preparação do país para o futuro.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, antes de deixar o cargo, permitiria que o meu partido colocasse centenas de amigos e familiares em lugares cimeiros com chorudas cláusulas de rescisão; encomendaria e pagaria fortunas por relatórios e estudos feitos por firmas dirigidas pelos meus familiares e amigos, para a seguir os relegar para a gaveta, dizendo a um Senhor Professor Doutor Michael Porter “Não é bem assim”; empregaria um exército de assessores com direito a veículos topo-da-gama, motoristas, salários monstruosos, cartões de crédito para despesas particulares e um cartão da “Presidência” para apresentar quando por exemplo estivessem bêbados demais para conduzir, e acenar na cara do agente da polícia depois do consequente acidente.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, seguiria uma linha de orientação na política externa que satisfizesse os caprichos de Washington, reconhecendo a independência do Kosovo de forma vil, baixa e cobarde, apesar de quase todos os representantes das órgãos do Estado se terem expressado contra essa ilegalidade.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, deixaria o Senhor Ministro das Finanças aumentar impostos e cortar os salários da classe média, castigando aqueles que nunca fizeram nada senão trabalhar, estudar e fazer o seu melhor, retirando dinheiro da economia e enviando ondas de choque pelo país fora criando todas as condições para uma recessão a curto prazo e mais perda de empregos. E eu não sou professor catedrático de economia.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, mentiria com todos os dentes ao país, alegando que tinha cursos e cadeiras universitárias quando nem sequer alguma vez meti os pés na sala de aula, fecharia escolas, destruiria o sistema público de educação superior, instalaria um sistema em que quem tem dinheiro, pode… e quem não tem, que se lixe.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, alteraria a base de dados dos desempregados cosmeticamente de maneira a que contassem só 10 por cento quando na realidade são uns 25% ou 30%, os que querem trabalho e não têm.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, o meu discurso de tomada de posse seria o seguinte:

“Senhoras e Senhores, vou pedir sacrifícios aos portugueses, ainda mais do que os outros governos desde há 36 anos. Prometo destruir todos os planos do governo anterior, não dando continuidade a nada em qualquer ministério, de forma a ver o país estagnar ainda mais. Os meus Ministros serão as pessoas mais adequadas para as Pastas, nomeadamente académicos que nunca viveram fora de redomas de cristal e que não têm nenhuma experiência da vida real. Nunca pegaram num sacho, e só sabem o que é uma enxada depois de a pisar e o cabo lhes bater na cara. Praticarão políticas de laboratório que só funcionam no papel em escritórios, em Lisboa.

Senhoras e Senhores, vou crucificar ainda mais a classe média, levada ao ponto de ruptura por executivos anteriores, e o meu não será excepção. Sabendo que é esse o sector que trabalha, paga os impostos e se sacrifica para ter uma casa, vou fazer tudo possível para que colectivamente, tenha de tirar os filhos das escolas particulares, pois as escolas públicas são tão boas; vou fazer tudo para dificultar a vossa vida de maneira a que ou vocês fujam de Portugal, ou então os vossos filhos e filhas tirem o primeiro bilhete de ida só, para fora, seja para onde for, nem que seja para Burkina Faso.

Senhoras e Senhores, meu governo irá seguir os passos de todos os executivos anteriores desde o 25 de Abril de 1974, deixando o país mais pobre, destruindo ainda mais o pouco que resta, a troca de nada, deixando-os sem qualquer fio de esperança no futuro, pois havemos de chegar ao fundo do poço e ainda cavar mais além.

“Senhoras e Senhores, o meu governo vai aumentar a taxa do IVA do leite com chocolate para 23 por cento, mantendo o vinho a 13%, de maneira a que os filhos que fiquem aqui, não tendo estofo suficiente para fugirem, possam levar uma garrafa de Periquita para a escola, para ficarem ainda mais atordoados, estúpidos e atrasados, fornecendo uma excelente geração para governar no futuro”.

E sabem o mais engraçado desta história? É que com um discurso destes, os portugueses votariam em mim.

Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru

(Tomei a liberdade de alterar uma ou outra expressão e acrescentar alguns artigos, europeizando o texto.)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Parabéns II

Pois é, O Pecado cumpriu o seu segundo aniversário no passado dia 7 e à semelhança do primeiro, voltei a esquecer-me da data... Mas O Pecado perdoou-me, tivemos uma pequena conversa e apesar de me dizer das boas, no fim perdoou-me, passando-me a mão pelo costado e afagando-me os cabelos, num gesto muito maturo para um blogue de tão tenra idade.

Quando há dois anos resolvi extinguir o "159cm", um mês antes de celebrar o natalício cujo número dizem que o fez o omnipotente, essa decisão prendia-se essencialmente na vontade de povoar o blogue. Como "159cm" era um nome que dotava o blogue de um teor imensamente pessoal, resolvi que aquele, deveria sob os seus reservados sete palmos tornar-se o adubo que alicerça-se este novo blogue numa vida próspera.

Vai daí, convidei dois amigos a juntar-se ao blogue e ainda um terceiro de quem continuo à espera, e com os seus pareceres positivos, criei este nato pecador. E um dos motivos de povoar o blogue, passava pela maldita patologia dos comentários, os jornais vivem das vendas, a televisão e a rádio das audiências, os blogues vivem de comentários e a falta deles aterrou-me num estado em que nada mais parecia reger as publicações do "159cm". Urgia a necessidade de mudança, composto que rege o mundo. Povoar o blogue traria assim uma lufada de ar fresco que ora permitiria haver mais, variadas e frequentes publicações, como, na minha esperança, mais gente, imanada pelo novo atractivo.

Contudo, estas terras d'O Pecado, são tanto ou mais estéreis que os centímetros do seu adubador, não as pisando quer comentários, quer colaboradores. Para graça do omnipresente que vê assim a sua criação longe e fugidia de tão contagiante mal. Mal este d'O Pecado que me parece contaminado pela patologia maldita do seu predecessor, por ele estrumado, germinando maleitas congéneres. Mas para minha desgraça, Lúcifer, ensombrado na apatia destas terras, carregando, neste ermo anátema, o desejo de outras estrelas além de Vénus.

Por vezes, contrapondo os valores dos contactos nas ditas redes sociais, olhando para este pecaminoso canto, alojado algures num dos muitos servidores por esse mundo fora, parece-me sentir que o desinteresse, por estas palavras, vai além do virtual.

E num jeito de homenagem, àquele que, em vão, à terra foi botado, abaixo deixo transcrito a publicação que no mesmo dia que este nasceu, àquele ditou a anunciada morte.



"Lágrimas no funeral de 159cm

Com o fétido odor da putrefacção, inundando as narinas daqueles que, crentes vinham beijar a nojenta face do velado morto. Eis que chegou a hora de cancelar o constante adiamento da sua soterração. 159cm fina-se assim sob os seus há já muito reservados sete palmos e em breve, tornado adubo, há-de fecundar "O Pecado", que vem já nascendo da semente da sua memória. Quando da terra brotar o rebento, aqui vos colocarei o endereço.

Até lá, chorem no funeral deste pequeno esquecido..."

Ninguém, porém, o chorou.

domingo, 10 de outubro de 2010

Mão severa no mexilhão.

Desde o passado dia 29 de Setembro que é manchete o plano de austeridade que o governo voltou a apresentar em dia, e à hora, de jogo do Benfica. Tanto que eu, benfiquista assumidamente doente, ouvia as declarações do Primeiro Ministro enquanto via o jogo do meu glorioso. O Braga jogara no dia anterior, Porto e Sporting jogavam Quinta-Feira, não descurando o grande jogo de Domingo, na Luz, entre os dois "milionários". Passado pouco mais de uma semana jogava a selecção cujos resultados e polémicas provoca(va)m o burburinho que sabemos e isto num país que, como já disse num outro artigo, pela bola tudo esquece. E que seria de nós sem a bola, de que haveríamos de falar, que assuntos seriam mais importantes que a absurda querela entre F.C.P. e S.L.B. lançada à duas décadas pelo senhor Jorge Nuno?

Adiante. Que melhor altura para lançar a público, e logo depois da "atenuante" visita do secretário geral da OCDE que, aconselhava exactamente medidas austeras para a recuperação económica de um Portugal que desde há 300 anos, só em 41 de regime ditatorial conseguiu alguma estabilidade que, em semanas tão importantes no que diz respeito ao futebol?

Num país já habituado a comer e calar e onde as pessoas têm cousas mais importantes com que preocupar-se do que política e políticas. Porque quiçá, não serão afectadas pelas decisões dos senhores que em "Lesboa" governam o resto de um país que para alguns ministros é deserto e para outros fica bem é cheio de betão e debaixo de água. Porque as decisões destes senhores em cortar nos salários de quem já ganha pouco e em encerrar escolas e outros serviços em zonas já por si votadas ao abandono, não parecerão afectá-las. Mais vale falar de bola, telenovelas e bisbilhotar a vida do vizinho.

Estou na minha quarta matrícula na universidade, durante os três primeiros anos dependi de um empréstimo bancário para poder estudar. No primeiro ano consegui a bolsa mínima, isto apesar de ter a minha irmã também no ensino superior, numa universidade que já na altura praticava a mais alta propina permitida por lei. No segundo ano, a minha irmã já acabara o curso, foi-me negada a bolsa. Este ano, com a desculpa da crise, o crédito não foi renovado para o 2.º ciclo. Pago, portanto, mensalmente, juros de 60€ e a partir do próximo ano quando ainda estiver a concluir o mestrado, porque com Bolonha de nada me vale a licenciatura, é, aliás, praticamente o mesmo que nada, tenho de começar a pagar o empréstimo. Ou seja, ainda sem ter o curso acabado, já me vão estar a cobrar o empréstimo de que careci para poder ingressar no ensino superior e com o mesmo tornar-me futuramente mão-de-obra qualificada...

Não vou entrar agora em questões como Portugal ser dos países da Europa onde o ensino universitário é mais caro e ser inversamente daqueles onde se aufere de um salário mais baixo, nem em questões de elitismo do ensino superior. Mas vou falar de factos como planos de austeridade em que se reduzem pensões a pessoas que ganham pouco mais que uns míseros 200€, depois de toda uma vida a trabalhar, vou falar de cousas como pensionistas que no caso de arranjarem emprego terem de optar entre a pensão e o salário e cortes nos salários a partir de 1500€. E como não sou economista, nem tampouco pretendo ser nenhum entendido destas cousas de finanças e economias, peço desde já desculpa por qualquer erro grosseiro da minha parte, nestas questões de finanças.

Claro está que quando se fala nestas situações de cortes nos salários, o povo - quando fala - se queixa logo que estes cortes não afectam os senhores que decidem sobre eles. Mas isso não é verdade meus senhores. O Presidente da República, por exemplo, vai ter 725€, salvo erro, reduzidos aos seu salário de 7250€. Vai receber uns míseros 6525€ - para coçar o horto - mais três reformas, por cargos que ocupou anteriormente. Reformas das quais, exemplarmente, o louvado senhor Aníbal Cavaco Silva havia já cancelado uma delas, aquela de menor valor, como exemplo do seu esforço para a retoma económica deste nosso murcho canteiro, no cu da Europa, plantado à beira mar.

E porque nisto de recuperação da economia, todos temos de dar o nosso contributo, não só os pensionistas e o Presidente da República, há também o, inevitável, aumento de impostos. Aumento esse que claro está afecta o povo, o típico mexilhão dado à lixadela, porque nos seus negócios milionários, a PT e outras empresas, assim como os bancos, continuam isentos de quaisquer responsabilidades para com as finanças do estado, ou senhores como António Mexia e outros directores gerais e executivos, os chamados CEO - que está mais na moda - continuam a auferir salários equiparáveis aos de países do G20 - num país que diziam, as grandes obras públicas transformariam num país de terceiro mundo - e a receber bónus absurdos, na categoria do "milicamponário" (Grego, kampi = monstro).

E o senhor engenheiro (ainda tenho o exame domingueiro entalado na garganta), finge uma birrinha com o congénere social democrata e "ameaça" a crise política, numa autêntica palhaçada e gozo com a cara do lixado mexilhão, se não lhe fizerem a vontade, dizendo que é de crucial necessidade para o futuro económico do país, que o povo que já trocou o cinto por um baraço, porque não eram possíveis mais buracos, ou que já nem baraço usa, pois não tem calças para segurar, é a sacrificada carne, no canhão da contínua ofensa capitalista ao "bom senso comum".

Vai-nos enfim valendo que a selecção venceu a Dinamarca por 3-1 e com esta boa mostra do novo seleccionador Paulo Bento, o caminho rumo ao Europeu parece agora menos tenebroso.