terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pecado original inspirado no "não sou muito dessas coisas"

Façam-nos acreditar que temos vida, que a temos, que a controlamos e que é sempre possível mudá-la para melhor.
Para isso, concedam-nos empregos, casas, carros, barcos, aquecedores, refrigeradores, aspiradores e tudo o mais que consigam lembrar-se. Que algum de nós, ainda que remotamente, possa alguma vez vir a querer. Não é preciso serem exigentes na qualidade das ofertas que as nossas pretensões, também não o são, têm é de ser muitas, muitíssimas! Não se preocupem, nós, comemos de tudo. Desde que nos ponham à frente, marcha!
Assim sendo, presenteiem-nos com banquetes de informações. Mostrem-nos tudo aquilo que podemos e não podemos ter, aquilo que existe, que existiu, que vai existir e mostrem também, já agora, o que nunca existiu, mostrem-nos, verdade ou não, mostrem, nós queremos é ver! Ver para crer! Ou ver para querer! É já igual, por isso, sirvam-se então os vossos banquetes pelas televisões, rádios, revistas, livros, jornais, montras, cartazes, na Internet, que inocente, discreta e previamente, foram distribuídos por todo o planeta. Sirvam-nos até a exasperação de não dormirmos e só sonharmos.
Para isso, basta-nos fazer crer que é possível que de um momento para o outro, possamos ser nós os vencedores. Façam-se lotarias, ofereçam-se empregos bem remunerados, empregos muito bem remunerados, e ordenados estapafúrdios, que nós sonhamos. Não precisam ser muitos, desde que haja sempre um ou outro afortunado do povo, o povo sonha.
Melhor, façam mesmo como bem entenderem, desde que nos façam acreditar que temos vida e que somos nós que a controlamos, por nós, tanto nos faz….
Mas nem só de matéria se faz a vida, há também a sua parte de valor imensurável, embora todos saibamos que dinheiro traz felicidade, também somos todos unânimes em saber, que há gente que o tem aos milhões e ainda assim não o é. Por isso, crivando a felicidade material da imaterial, é já fácil perceber que falta tão pouco para serdes vós, os nossos plenos comandantes da felicidade. E é isso que nós queremos, “nós não somos muito dados a essas coisas” de nos controlarmos a nós próprios. Para quê chatearmo-nos com os nossos destinos, se há gente disposta a fazê-lo por nós?
Vocês controlem-nos que a gente só quer viver a nossa vidita na paz de algum senhor, ou de algum analgésico para finalmente adormecermos no nosso sonhar…

1 comentário:

Anónimo disse...

"Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar."