segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fulano, Beltrano, Sicrano, butano e propano...

O cérebro é pródigo em associações que, à primeira vista, parecerão estranhas e inusitadas, como sentir num ambiente carregado de um gás inodoro o cheiro associado a um outro gás, igualmente perigoso, como meio de alertar-se e aos que o rodeiam do eventual perigo iminente.

Assim, procura-se o número de emergência da empresa responsável pela distribuição do gás canalizado, alerta-se para uma eventual fuga e a mando dos próprios, pois já estavam fora do horário de expediente, desliga-se o gás e no dia seguinte faz-se novo telefonema em horário de trabalho. Portanto, no dia seguinte, cumprida a ordem, chega o técnico para averiguar o problema. Análises a níveis, valores e possíveis fugas nos canos, demonstram que a fuga de gás não é uma realidade naquele cenário. Daí, faz-se uma análise à concentração de monóxido de carbono (CO), a qual se revela superior aos valores seguros e legais, levando a que por questões de segurança e legalidade, o gás seja cortado. Não basta desligar o esquentador, é preciso cortar o acesso de gás, ou seja, nem água quente, nem fogão, a menos que se tenha a sorte de ter uma placa eléctrica (o que não é o caso).

Como a empresa responsável pela distribuição, não é responsável pela manutenção e arranjo destas questões de esquentadores e concentrações de CO, o gás fica cortado até outra empresa, indicada pela anterior, ser contactada com vista à resolução do problema. Sendo a casa alugada, é ainda necessário contactar os senhorios e informar das reparações e alterações devidas. Como uma vez mais o horário de expediente está já ultrapassado, só no dia seguinte o contacto com a segunda empresa é possível, a qual, informa, então que, não tendo qualquer técnico disponível (algum eventual surto de concentrações de CO e fugas de gás deve estar infectando a região e consequentemente ocupando todos os especialistas nestas questões) só no próximo dia útil é possível que um técnico se desloque à moradia, para fazer o orçamento. Como é Sexta-Feira, só Segunda-Feira, um técnico pode então vir fazer não a reparação, mas o orçamento da mesma. Pois a reparação tem ainda de ser agendada e só sem azar (não creio na sorte) no dia seguinte será possível.

De facto, estamos sem azar, é possível proceder à reparação no dia seguinte. Cerca de uma centena de euros, vinte contos no saudoso escudo, para aumentar o buraco de ventilação para medidas legais (gratuitamente - acho - podem melhorar o isolamento do tubo de extracção dos gases). Depois, chama-se uma nova empresa, representante da entidade reguladora destas cousas de gases, para se certificar de que os valores estão de facto dentro dos parâmetros legais, senão, há que mudar o esquentador. Isto, porque só esta entidade é que pode legitimamente quebrar o maldito "lacre" na torneira do gás e restabelecer a ligação de gás, por uns módicos quarenta e cinco euros, cousa a mais cousa a menos, dez contos na moeda antiga.

Ou seja, a empresa A, porque o esquentador acumula demasiado CO, cortou o gás completamente e não só na torneira respectiva, remetendo a sua reparação para a empresa B que, quer para orçamentar, quer para reparar, não está nunca disponível no próprio dia e, também, não pode sequer repor a ligação do gás, pois para isso é necessário um novo parceiro, a empresa C que se cobra por um serviço que eu não pedi, não pedi para me cortarem o gás, porque hei-de pagar para mo reporem? O gás utilizado nos testes de fuga e concentração, assim como o futuramente gasto na reparação, vai ser cobrado do meu bolso, não vai certamente ser descontado na próxima factura. E do meu bolso, só não saem os cento e cinquenta euros de reparação e reactivação, pois esses são da responsabilidade dos senhorios e hão-de ser descontados no valor da renda.

Esta é, assim, a história de como Fulano, Beltrano e Sicrano me disseram que o problema não era o butano, que esse vem em botijas e seria certamente uma para cada electrodoméstico, o problema é o propano que vem canalizado para todos os que dele façam uso. E por ser canalizado, canaliza muitos esforços, dinheiro e entidades para fazer um buraco e meter um pouco de fita de alumínio em volta de um tubo. Pena é que o gás não seja aluno de E.V.T., bastava uma empresa para tratar do problema todo...

3 comentários:

deep disse...

Ainda não passei pelo mesmo com o gás, mas já tive outras experiência que também exemplificam muito bem como qualquer problema se torna uma arrelia neste país.

Na minha casa, a empresa que fornece o gás, colocou uma grelha de respiração na madeira que tapa o estore de uma janela. Só há uns tempos, quando foi preciso reparar o estore, fiquei a saber que não há qualquer abertura para o exterior. Estou a preparar-me para fazer queixa da empresa.

Anónimo disse...

De facto a aqui algumas coisas que me oferecem dizer.
O técnico que foi a sua casa limitou-se a colocar as pessoas em segurança e ilibar a responsabilidade do fornecedor "cortando o gás".
o segundo que lá foi não tinha conhecimento para a reparação.
O terceiro que era o senhorio ou arrendatário. Não tinha o mínimo conhecimento legal das implicações de um acidente nestas condições.

É claro que um pobre técnico, tendo conhecimento de tudo isto prefere deixar o gás fechado, sob pena de estar envolvido nesta inconsciência toda.
o uso do gás não é perigoso mas implica alguns cuidado como tudo na vida, é pena que as pessoas pensem sempre que as culpas da sua inconsciência seja dos outros. Puff... Não dá para acreditar.

Koky disse...

Caro anónimo, lamento, pois nada posso que não seja lamentar que não tenha percebido o texto.

Há-de explicar-me onde o facto de me queixar de terem sido necessárias três empresas e um bom rol de dias e dinheiro, apenas e somente, para fazer um buraco junto a uma janela, sejam de algum modo imputações de má conduta por parte do técnico que procedeu ao corte. Aliás, creio ler-se muito bem quando digo:

"...levando a que por questões de segurança e legalidade, o gás seja cortado."

Queixo-me, é claro, de que visto que o problema era com o esquentador, não tenha sido apenas este o electrodoméstico desactivado. Até porque é servido independentemente do fogão, o qual não acumulava monóxido de carbono.

Mas a questão aqui, e pensei eu tivesse ficado bem explícita, é toda a miríade de pessoas e processos envolvidos, para fazer um buraco. E depois ainda me cobrarem valores absurdos, por algo que em cinco minutos, tinha ficado resolvido logo no próprio dia.

E não vejo qual a inconsciência em crendo ter uma fuga de gás, chamar o serviço respectivo para resolver a eventualidade, tendo até para isso cortado, já pessoalmente, o gás.

Eu bem sei que a culpa morreu solteira e todos gostamos de a atirar para cima dos outros, como me acusa relativamente ao "pobre técnico". Contudo, caro anónimo, quando quiser apelidar-me de inconsciente e consequentemente acusar-me de alguma irresponsabilidade, pelo menos saiba do fala, ou do que eu falo.

Porque, deixe-me reiterar, para que fique bem frisado, queixar-me de estar cinco dias sem poder cozinhar, porque o esquentador acumula monóxido de carbono. E isto - apesar de achar que bastava cortar o gás ao esquentador, compreender que o corte geral seja por uma questão de segurança - suceder porque todos vão passando a responsabilidade da reparação para outrem. Não é atribuir culpas sequer a uma pessoa mas, a um sistema.

Inconsciência seria não ter ligado para a companhia, apesar de achar haver uma fuga.

Prático teria sido o buraco ser logo feito, porque que eu saiba, não é preciso um curso para usar um berbequim.

E no fim, pagar 150 euros, por um buraco de 10 centímetros feito em três tempos e uma medição num aparelho!

Vai-me desculpar, a ironia e mordacidade mas, quando quiser chamar-me irresponsável, tenha razão para fazê-lo, não me culpabilize por não saber ler.