sábado, 7 de novembro de 2009

Alien, o 8.º passageiro

Em 1979, ainda eu não era nascido - faltavam quatro anos e 17 dias, para ser mais exacto - e já o senhor Ridley Scott estava a mudar a minha vida. Quando soube que ia passar na RTP (creio que pela primeira vez), estava em plena fase de obsessão por alienígenas - cheguei a escrever na escola uma composição sobre o facto de eu próprio ser um ente de além-espaço e pedi até desculpa aos meus pais, pois eu apenas ocupava o corpo do filho nado-morto deles.

Pela mesma altura, creio que já devia ter lido pelo menos umas duas vezes um livro que tinha sobre o Triângulo das Bermudas, para não dizer que falava por telepatia com o meu irmão gémeo Paulo que, acompanhava no nosso planeta natal a minha missão aqui na terra. Portanto, creio que se percebe a minha enorme paranóia quando soube deste filme que ia para o ar numa Sexta-Feira à noite. Andei creio que toda a semana a revolver as cassetes VHS e as revistas de televisão, para arranjar uma primeira com tempo mais que suficiente para a totalidade do filme, intervalos e mais os acertos de tempo, antes e depois; e nas segundas, sempre a confirmar a hora e duração do filme. (É que para quem não saiba, isto de agendar gravações, não é exclusivo das novas tecnologias como MEO e outras que tais. Até a gravação por programa já existia, para quem tivesse um vídeo gravador que suportasse a função.) E quanto mais lia sobre o filme, mais a minha curiosidade e obsessão crescia.

Nessa noite, os meus pais foram para a discoteca, e como era costume, sem ter com quem ficar, já que todas as opções tomavam o mesmo rumo, eu e os meus irmão (terráqueos, lol) fomos com eles. Não me lembro, mas certamente o meu pueril coração pulsaria loucamente, com a ideia de no dia seguinte poder ver um filme que não o imaginava, mas viria a dar 3 sequelas e fala-se que é desta que vem a 4.ª, Alien 5, e havia de tornar-se no meu primeiro filme de culto.

No dia seguinte, qual dia de Natal, fui louco para a sala procurar a cassete onde gravara o filme da minha vida. Contudo, não o encontrei. A cassete não estava lá. Simplesmente tinha desaparecido. Procurei em toda a parte, falei com a minha mãe e agora não posso precisar, se ela me disse que a tinha levado o meu tio, se disse que nem sabia dela. O que interessa, é que dias mais tarde, para mim foram anos, por isso nem arrisco com um número. A cassete reapareceu, o meu tio trouxe-a de volta ao meu coração rejubilante e extasiado, finalmente ia poder ver Alien, o 8.º passageiro.

Meti a cassete e devo-a ter visto toda em "fast forward" procurando o filme de tanta obsessão, mas o filme não estava lá. Em seu lugar uma enorme variedade de bonecos animados, gravados na televisão portuguesa e na espanhola, a TVE era de resto algo bastante normal na altura, para nós, já que a proximidade a Espanha por vezes nos fazia sintonizar melhor a televisão daquele país. Mas como dizia, do 8.º passageiro nem sinal, nada, zero, nicles, nem o genérico...

Escusado será dizer que trouxe um ódio imenso ao meu tio, por ter apagado a minha felicidade antes sequer de a conhecer. Lembro-me que se tentou remediar o mal com outros filmes, um dos quais foi para mim um culto enorme e vi-o vezes sem conta, talvez em toda a minha vida o filme que mais vi e mesmo assim, não foram as suficientes para que hoje me lembre do título, ou dos actores. Quanto ao Alien, o meu tio não fora o culpado, acabei por saber um dia que, a minha mãe considerando que o filme fosse demasiado violento e terror a mais para a minha inocente idade, pediu discretamente ao meu tio que grava-se em sua vez a panóplia de bonecada que a cassete então continha.

Não sei quando tive depois a oportunidade de ver então pela primeira vez Alien, o 8.º passageiro, mas sei que foi tal a emoção que cheguei a fazer para a escola um desenho representativo da cena em que o 8.º passageiro irrompe do peito do segundo tripulante Kane. Hoje, trinta anos passados sobre a primeira viagem do 8.º passageiro e não sei quantos sobre a(s) minha(s) primeira(s) viagem(s) com ele, o filme ainda me marca de tal modo que após o ter visto uma vez mais na RTP, não resisti a publicar no blogue o turbilhão de sentimentos que o extraterrestre malvado, tão perfeito quão maligno, provoca na minha pessoa.

1 comentário:

Samuel Almeida disse...

Este post é digno de ser lido no programa da antena1 "História de vida". Conheces o programa? Experimenta enviá-lo...