segunda-feira, 31 de maio de 2010

A alternativa é poluir.

Lembro-me de em criança ler e ouvir falar imenso sobre o fim da gasolina. Supostamente, no início do XXI século o petróleo teria acabado, ou estaria próximo do seu fim. Ditava-se assim uma necessidade de encontrar soluções. E essas soluções sempre passaram pelas energias limpas.

Hoje, em já pleno século XXI, o petróleo continua sendo a principal fonte energética das nossas industrias e meios de transporte. As alternativas existem, mas são tão parcamente exploradas e as oportunidades de dedicação às mesmas tão rejeitadas e abafadas na máquina do capital petrolífero, que até a compra de carros eléctricos parece coisa de ficção científica.

Os parques eólicos são contestados per populações que se queixam quer do barulho dos aerogeradores que, os impedirá de dormir (?), quer do aspecto que os mesmos confiram à paisagem. Gostamos mais de respirar o fumo pesado e malcheiroso de fábricas e escapes de automóveis e motorizadas. E de ver a natureza violada pela mordaz fealdade dos gigantes de betão. Somos assim mesmo, ignóbeis e ignorantes.

Há cousa de mês e meio que na costa atlântica da América, uma fuga de petróleo - esse mesmo que estava para acabar, esse mesmo que é tão poluente que é preciso acabar com a sua dependência - lança valores tão exorbitantes de crude no oceano, valores que o comum humano nem consegue conceber concretamente, que a onda de poluição atinge já os 30 quilómetros de comprimento per 10 quilómetros de largura. 30 quilómetros é mais que a distância que separa Macedo de Cavaleiros da minha aldeia; Peredo. 10 quilómetros é metade da distância que separa A mesma cidade da vizinha Mirandela.

Depois de diversas tentativas falhadas, a actual (que se já admitiu não reterá a totalidade da fuga) só em Agosto surtirá qualquer efeito. Até lá, são pelo menos mais dois meses de crude lançado no oceano, afectando todas as espécies que neste têm o seu ecossistema e que deste dependem para viver, onde se incluí o ser humano. Mais dois meses, sobre o actual mês e meio, perfazem mais de um quarto da duração de um ano. Mas a fuga não será totalmente controlada, portanto, mais petróleo vai continuar a ser lançado na costa do Golfo do México. Facilmente de um quarto, passaremos a um terço de um ano, com o petróleo jorrando dos tubos danificados pela explosão, como de uma jugular, ou qualquer outra artéria, cortada.

Se a este incidente somarmos todos os outros desastres ocorridos com petroleiros que já tanto poluíram os oceanos e afectaram ecossistemas e vidas animais. Se lhe adirmos a quantidade de lixo que sem pudor atiramos para o chão, apesar de todos os avisos que nos façam, por mais poluídos que vejamos os céus e calçadas das nossas cidades. Se a tudo isto ainda somarmos os efeitos das alterações climáticas. Seremos capazes de dormir tranquilos e continuar a atirar o lixo para o chão, quando temos um caixote de lixo a menos de dois metros, custar-nos-á tanto assim separar o lixo para reciclagem?

Infelizmente, a grande maioria vai continuar sem qualquer problema e vai ainda achar que não é obrigação sua fazer qualquer esforço, para melhorar a face do planeta que lhes dá habitação e alimentação, o planeta que lhes deu e dá vida. E também, a máquina capitalista petrolífera, jamais sequer ponderará qualquer alternativa que combata o uso desmesurado de petróleo e a sua poluição. Este acidente, no fundo, literal e figuradamente, não vai ser mais que uma mancha negra na história da humanidade, mancha à qual tudo se fará para esquecer e minorar. No final, quando esta fuga estiver controlada (esperançosamente algo há-de resultar), os preços da gasolina hão-de aumentar novamente, as pessoas hão-de queixar-se e culpabilizar o governo e vão continuar a usar o carro, não vão procurar soluções e como em tudo, hão-de deixar para outro e para amanhã. Porque na verdade, as gerações que sofrerão as consequências não serão as nossas.

E a alternativa será sempre a mesma, continuar a poluir.

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